segunda-feira, 12 de maio de 2008

A beleza do Peregrino

O Peregrino faz caminho com a promessa de uma fidelidade futura, e a humilde preocupação por assegurá-la a partir dos recursos da sua existência, como expressão de um amor, acolhido como dom e reconhecido como transcendente. No seu sentido mais profundo, a promessa de fidelidade do Peregrino não quer roubar ao futuro a sua novidade e imprevisibilidade. Nem tampouco o Peregrino espera, com a sua caminhada e a promessa de perseverar caminhando, garantir que o futuro, em cada dia, não lhe traga sobressaltos. No seu pensamento e no seu coração, desde o inicio, o caminho é simplesmente a expressão presente da autenticidade do seu amor e da sua vontade de perdurar nele como sinal de fidelidade na relação com Deus.

Fiel à Palavra de Cristo, o Peregrino articula toda a sua vida nas fidelidades concretas de cada dia, em que a caducidade dos passos dados se confronta com a perenidade de uma chegada aonde repousará para sempre no conforto do Amor de Deus. Mas, por agora, o destino é alguns quilómetros mais lá à frente, já ali, o lugar da comunhão fraterna por excelência, na oração e na fracção do pão, depois da partilha de tantos pães com que se sustentaram os corpos e de intensa oração com que se fortaleceram as vontades de muitos e muitas que peregrinam em direcção ao Santuário.

«O céu não está vazio», diz o Papa Bento XVI na sua Carta Encíclica «Spe Salvi» (nº.5), e os meus olhos contemplarão aquele Santuário cheio de homens e mulheres, crianças, jovens e idosos, a quem Cristo indica o caminho para além da morte, porque é um verdadeiro mestre da vida (cf. Spe Salvi, nº.6). Com efeito, no coração do Peregrino o caminho feito é o testemunho de abertura e de acolhimento a um chamamento que não nasceu das suas entranhas, que irrompe na sua vida, que o força a sair da terra dos seus hábitos e da suas facilidades, que o guia pela “noite escura” da insegurança perante um mistério que o atrai, e contudo não se deixa prender às suas fantasias ou veleidades.

Eis a grandeza e a beleza do Peregrino: a confiança de seguir uma voz provocadora de humanização, de irrupção exigente de Deus na sua indemonstrável gratuidade e incalculável liberdade de Graça, que chama quando quer e como quer, diante de Quem o Peregrino não tem outra resposta que um «eis-me aqui», sem perguntar porquê e sem reivindicar respostas. À semelhança de Maria, mãe de Jesus, que ao dizer «Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38) mostrou a profunda humildade diante da grandeza da sua missão (cf Spe Salvi nº. 50), e ficou para sempre como modelo magnífico para todos os peregrinos, homens e mulheres!

In: Aliquando

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